Os melodramas de Catarina


Era um tarde qualquer de um verão qualquer. Sem mais delongas, nada de muito curioso no que estava acontecendo até então. Contudo, nunca se sabe quando as coisas podem mudar de uma hora pra outra. E foi assim que aconteceu.

Na altura dos meus quinze anos, havia poucas preocupações que perduravam sobre minha existência terrena. Estava entre o que assistir no cinema no final de semana ou que livro ler para me distrair. Não tinha preocupações de adolescentes normais. Era madura demais pra pensar em pouca coisa. 

Enquanto minhas amigas descobriam o significado dos homens no mundo, eu descobria um artigo fantástico sobre o aquecimento global ou coisas relacionadas ao mundo que eu considerava real. Confesso que minha maior influência era meu pai, um biólogo engajado em causas sociais e, óbvio, biológicas. E a única referência depois dele, era minha melhor amiga, Alice, a quem eu sempre tive dúvidas sobre sua sanidade mental. Não tenho mãe, tampouco qualquer figura feminina na família, mas nada disso me impediu de me tornar uma perfeita mulher com grandes traumas causados por minhas grandes expectativas claramente frustradas. 

Mas voltando a 1996, as coisas não eram tão complexas como agora, eu era cheia de certezas que nenhuma garota da minha idade tinha, nem mesmo Alice (essa veio de longa data). E com o passar do tempo, assim como ela e outras amigas da época, começaram a descobrir coisas que eu nem sabia da hipótese da existência. Até aquela bendita tarde de verão.

Alice havia me chamado pra andar pela cidade, conversar, o que era um programa razoável, já que naquela época a modernidade não era tão online como agora. Em uma de nossas paradas, subitamente apareceu ele, o cara mais intelectual da aula de inglês e de qualquer outra aula: o infeliz do Renato. 

Veja bem, naquele momento ele era apenas o Renato, do qual eu realmente nutria bastante fascinação e admiração, que eu não considerava como uma forma de paixão ou sei lá o que. O ponto é que eu era monossilábica perto dele, eu achava que por ele ser tão inteligente, nada do que eu dissesse acrescentaria alguma coisa em sua vida, já que o mesmo possuía, ao meu ver bastante distorcido, um ar culto sobrenatural. E então, naquele mesmo instante, ele se juntou a nós.

Não sabia em que momento da vida Alice tinha se tornado tão popular, o fato é que ela era. E tinha motivos pra ser. Ela tinha os cabelos mais loiros que alguém podia ter e de contraste com a claridade dos cabelos, tinha os olhos negros, tinha a pele mais branca que papel e era a pessoa mais maravilhosa que alguém podia conhecer. Era engraçada, simpática e possuía todas as características que uma miss mundo tinha. E por possuir esse combo maravilhoso (que agradeço até hoje), Alice conhecia Renato. E mais, Alice sabia do meu problema monossilábico. Como ela sabia, eu não soube na época e continuo sem saber até hoje, depois vinte anos... E ela continua sabendo dessas coisas tão particulares. E então, BOOM. 

Esse "BOOM" representa um beijo que aconteceu que eu não me recordo tanto de tão traumático que foi. Não que o beijo tenha sido ruim ou que alguma coisa não foi como esperado, mas depois desse beijo houve um desencadeamento de problemas que não surtiram nenhum resultado até hoje.

Pra começar, todo mundo ficou sabendo do ocorrido. E quando eu digo "todo mundo", eu estou dizendo até o meu pai, que era considerado um lunático pelas pessoas de fora. Foi vergonhoso ver que todo mundo sabia porque a) eu sempre fui muito reservada e b) isso deu vantagem as pessoas para me atingirem com comentários maldosos e mentirosos. A vida tem dessas pessoas que, na época, eu não sabia lidar, mas hoje em dia, tiro de letra.

Assim prosseguiu a tragédia sem fim. Me encontrei em um estado de paixão sem precedentes, que de "monossilábica" me tornei muda. MUDA. M-U-D-A. E pra acabar de vez com toda essa avalanche de incertezas que eu não sabia que podia existir no mundo, Renato se comportou como um idiota. Fingiu que tudo era mentira, o que tirou toda a minha credibilidade perante a todas as pessoas existentes no mundo. Se naquela época existisse uma forma de desaparecer de imediato, eu com certeza o faria. E olhando pra trás, percebo que aquela era só uma história ruim que eu tinha. A vida começava naquele momento.

PS.: naquele mesmo ano, quando eu já havia superado o Renato com a mais nova existência do Pedro (essa é uma outra história), o mesmo infeliz me chamou pra uma festa na qual a escola inteira compareceria. Não fui. Meu papel de trouxa, com certeza, não começou naquele ano. 

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