Minha intensidade
Você disse gostar de fogo. Queimei. Você disse que toda intensidade ainda era pouca para o quanto você ardia por dentro. Repetia inúmeras vezes que nada era tão bom do que arriscar, pois o medo de cair nunca lhe ocorreu.
Pois bem. Quando o fogo se alastrou, eu que confiava inteiramente na sua pose de jovem corajoso, vi a facilidade que você teve em ir embora. Não deixou queimar uma mísera faísca se quer. Permitiu que as chamas me consumissem por completo, sem restar um fio de cabelo pra contar história.
Eu, que vendo tudo aquilo em meio ao fogo que, ao invés de me cegar, abria meus olhos, percebi o quão dolorido é confiar na pessoa errada. Querer a pessoa errada. Amar a pessoa errada. Assim como eu fiz com você.
É compreensível a falta de reciprocidade, nem todo mundo tem a capacidade de retribuir. Mas veja bem, eu nunca havia te pedido pra ficar. Sempre soube que minha intensidade assusta. Sempre soube que as chamas que vivem a me acompanhar gostam mesmo de queimar. E sempre deixei isso tão claro que não havia nada que você pudesse reclamar quando o meu calor chegasse.
Você não pareceu se importar, não ligou pra insistência que eu tinha quando eu falava inúmeras vezes que você iria se queimar. Mas mesmo assim, alegou a certeza de que ficaria, de que era possível ficar. Veja bem, meu bem, agora só restou eu e o resto de nós dois espalhados em cinzas pela sala, pelo banheiro, pelo quarto. E eu que confiei em você, tomei álcool achando que era água com açúcar e me queimei por dentro.
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