O amor que há por dentro

Quando eu tinha dezoito, meus pensamentos gostavam de me levar a lugares promíscuos, onde havia uma habitação dentro de mim que acreditava piamente que beijar na boca, transar e coisas do tipo eram as melhores eventualidades que poderiam me acontecer. A falta de maturidade era latente na garota que eu era. 

Com o passar do tempo e com as responsabilidades aparecendo, me tornei uma pessoa com um pensamento um pouco mais além, me envolvi com pessoas de formas mais sérias e milhões de vezes mais intensas e o que eu pude constantar é que perdemos a habilidade do toque sem sentido, do beijo em um desconhecido e damos lugar ao abraço daquela pessoa que faz nosso coração bater mais forte. 

Deixamos de lado aqueles carinhas que conhecemos enquanto bebemos numa noite qualquer e damos lugar aquele encontro na cafeteria, aquela ida ao cinema pra, de fato, assistir filme, aquele momento sem graca onde você não sabe se entrelaça os dedos ou admira o sorriso. 

Deixamos de lado as inúmeras mensagens de texto e damos lugar para as ligações  para ouvir a voz, saber se a pessoa tá sentindo o mesmo que a gente pelo simples tom que se fala. Pelo jeito que respira entre as palavras. 

Passamos a valorizar os momentos, as conversas, o jeito que a pessoa coloca o cabelo pra trás, o jeito que ela sorri quando alguma piada é contada, o olhar penetrante de admiração que arrepia da ponta do dedo até o fundo da alma. 

Valorizamos o que há por dentro, o que bate no coração, a existência de um ser repleto de defeitos, qualidades, erros e acertos. Imperfeições e plenitude. Deixamos de lado o fato da pessoa ser "gostosa" ou ter um cabelo loiro que ocasionalmente nos causa tesao. Damos espaço ao verdadeiro, ao que verdadeiramente importa. 

Deixemos de beijar corpos e passemos a beijar almas.

E passamos a compreender que é bom gostar do outro, amar o outro, se ver tão bem ao lado do outro de uma forma muito mais intensa, mais feliz, mais completa. Somos mais felizes quando enxergamos o outro de maneira real, sem as mil e uma formas que se apresenta pra impressionar, pra chamar atenção pra si. E quando aprendemos a olhar as pessoas com olhos tão profundos e cheios de desejo de conhecer, passamos a valorizar as nossas qualidades. A entender que somos todos imperfeitos em busca de alguém que entenda nossa imperfeição e ainda sim, deseje ficar sem um pingo de dúvidas.

E sinceramente, torço todos os dias, incansavelmente, encontrar algum dia, alguém que me conheça por dentro tão bem quanto a mim mesma e escolha ficar. Mas enquanto isso não acontece, procuro enxergar o outro e amar. Afinal, já dizia algum poeta por aí que eu não me recordo: ninguém perde por dar amor.